terça-feira, 1 de abril de 2014


O nome dele é Antonio, mais conhecido como Toinho de Leandra, mora na Zona Rural de Cachoeira, cidade histórica do recôncavo da Bahia.

Ela é Silvia, uma mulher dócil e calada. Silvia percebeu o Amor e dedicação de Toinho na adolescência e logo decidiram tocar a vida juntos
Depois da morte da sua mãe, ele herda não só a casa, mas a destreza de trabalhar com a natureza.
Ele como Homem do Campo, na lida dura da roça, aprendeu a tecer cipó caboclo com sua mãe, e logo sua habilidade de trabalhar com tal material aumentou, ai foi a vez de Silvia absorver a técnica. Silvia desenvolveu rapidamente a técnica e logo já ultrapassava Toinho em sua criatividade para confecções das peças, cestos, balaios, fruteiras, caxixi, e muitas outras que saem da mente criativa de Silvia; Mas é através de Toinho que as coisas se consolidam na família. A venda dos artigos na feira livre, o pagamento das contas, a alimentação que entra na casa, tudo é papel fundamental de Toinho, que não abre mão de ser chamado de Pai de Família.


O universo onde é formado esse convívio de artesões é em uma casa de taipa, onde o acesso é ruim, estrada de chão batido, poucos vizinhos, longe do burburinho urbano, que não faz falta essa família, em partes...

A casa tem estrutura simples, um pouco precária. Feita de barro batido, possui poucos cômodos; Uma sala que a noite vira o quarto dos filhos, o quarto do casal e a cozinha. Todos muito apertados, a sensação de estar dentro da casa de Toinho e Silvia é meio que como está numa caverna, a porta e a janela ficam sempre abertas para entrada de luz, mas logo no cair da tarde a escuridão e mosquitos começa a fazer parte dessa cena.
O banheiro é fora de casa, como de costume na zona rural, a água tem que ser armazenada em tonéis, pois nem sempre ela cai da torneira.


O radio armengado na sala informa as noticias, e Toinho quase nunca as escuta, agarrado a suas ferramentas de trabalho, machado, facão e foice, sempre esta de serviço, hora limpando um terreno, hora retirando cipó no mato para sua arte, aquela que assegura sua existência e bem estar da família. Toinho tem sonhos, deseja uma casa melhor, de tijolos, com telhas novas e o chão com lajota. Não precisa ser piso de porcelana, ele quer ver as paredes rebocadas com cimento, também não precisa pintar de primeira, eu me contento em ver a cor do cimento, diz Toinho com os olhos cheios de emoção.
Queria um carrinho também, pra levar minhas coisas pra vender na feira, pra viajar com minha nêga. 
Locomover-se com mais facilidade, expandir os horizontes, Toinho consegue identificar que precisa se movimentar para as coisas acontecerem, para que seus sonhos se realizem, para que as oportunidades da sua família aumentem.  


Sou Avô, diz Toinho, e Silvia sorri com a pequena neta nos braços, e me mostra... Essa é meu denguinho; Uma família amorosa, que se importam uns com os outros em meio às dificuldades... Da natureza tiram o seu sustento, moram numa humilde casa feita de materiais de construção primários.





Tem três filhos, Eliene, Eliana e Antonio Junior, uma das filhas, a que já esta  casada, a Eliene, presenteou Toinho e Sonia com uma linda netinha.
Na sala que a noite vira quarto, dormem Eliana, que quer ser advogada e Antonio Junior, o caçulo.
Como Toinho de Leandra costuma falar, ela (Eliana), é esforçada, estudiosa, mas já o Junior, esse ai só quer saber de bola e fliperama.
E em algumas situações os desejos da família se dividem.




Como? Pois bem, os adolescentes adoram a cidade, anseiam em estar lá, desejam o universo do caos barulhento do trânsito, do convívio com as tecnologias, são apaixonados pelo movimento do crescimento urbano. Isso se mostra completamente o inverso do desejo dos pais, que vêem a cidade apenas como centro de venda dos seus produtos e uma das opções de lazer.
E quando pergunto se ele deseja um dia se mudar, ele responde:
- Olhe a sua volta, você acha que eu vou largar minha horta, minhas frutas, meu sossego, por aquela bagunça? As pessoas na cidade vivem com medo, correndo de um lado pra outro sem observar a natureza. Só se for louco pra sair daqui, e Silvia balança a cabeça afirmativamente e diz: Verdade meu Nêgo, Verdade!!!

                                                                                     Valmir Almeida Junior

Sem comentários:

Enviar um comentário